domingo, 15 de dezembro de 2013

Guimarães-Twenhöfel Manor, Edinburgh, UK
Catacumbas

Depois de uma semana produtiva em Londres, e antes de voltar para o Brasil, vim passar o fim de semana em Edimburgo. Vim ver meus amigos André e Antonia, que esperam aqui um bebê que pode nascer a qualquer momento. A previsão do tempo indicava temperaturas de 3-9 graus, chuva intermitente e lufadas de vento ('gale force winds'...), um clima considerado extremamente ameno para a estação por diversos dos meus interlocutores locais.

Entrando no clima, literal e figurativamente, desci do ônibus do aeroporto, montei a bicicleta e fui margeando as colinas de Holyrood até o meu hotel. O frio não incomodava tanto, mas o chuvisco era bem irritante, e os ventos irregulares eram até perigosos (lufadas mais fortes quase me jogaram da bicicleta mais de uma vez).

Cheguei são e salvo, porém, e após um chá e um banho, fui para a casa do André. Conversamos, fomos assistir o Hobbit (o consenso: um exagero auto-indulgente que esconde o germe de uma adaptação interessante) e comer a versão local de churrasco (muito bom).

Os desjejuns escoceses são notoriamente substanciais; o do Salisbury Green é considerado exagerado pelos locais. No dia seguinte (i.e., hoje), após haggis, bacon, torrada, tomate e cogumelo fritos, ovos poché, suco, frutas, croissant, queijos e café, fui (lentamente...) me encontrar com outros amigos na cidade. A parte histórica de Edimburgo tende a agregar naturalmente um certo ar de mistério a lugares a princípio perfeitamente mundanos. A arquitetura elegante mas severa, quase sem cores, sugere sempre algo antigo mas ainda presente; e a dimensão vertical (é uma cidade de colinas irregulares) e a profusão de vielas tortas, alamedas e catacumbas várias adiciona um inevitável ar de mistério. O fato é que esta é uma cidade perfeita para se perambular. Perambulamos.

Me despedi dos meus amigos após uma refeição vegetariana um tanto decepcionante (durante a qual agradeci aos céus e a William Wallace pelo café da manhã), e fui conhecer o museu nacional da Escócia.  Talvez o seu artefato mais bizarro seja uma grotesca máscara de couro, com barba e cabelo humano e dentes falsos (?), que era aparentemente usada por um pastor presbiteriano para pregar incógnito em uma época em que o seu secto protestante era, por alguma razão ou outra, ilegal. O que as suas efêmeras congregações achavam dos sermões proferidos por um aparente serial killer não ficou registrado, infelizmente.

Me atendo ao tema, encontrei-me novamente com o André e a Antônia, para visitarmos algumas catacumbas. São várias na cidade, então é preciso ser criterioso. A chamada Gilmerton Cove foi escavada em uma época não determinada no arenito sob uma casa ordinária em uma vila sem distinção. Foi oficialmente descoberta no século 18, quando o dono da dita casa foi preso por usar as catacumbas como pub e vender bebida no domingo. São diversas câmaras e nichos, com mesas de arenito esculpidas na rocha, tuneis misteriosos bloqueados por entulho e a aparência de um local criado para algum propósito bem definido, mas que nos é totalmente misterioso. As
Rola um D20
hipóteses para explicar tal propósito variam do esdrúxulo ao meramente improvável: Locais de missa secreta de dissidentes religiosos, refúgio de cavaleiros templários, antro de vício e covil de bruxos. Nada que me pareça muito convincente.

Acabamos de jantar em um pub fundado em 1380. Daqui a pouco pego o ônibus de volta ao aeroporto. Voo até Londres, passo a madrugada em Heathrow, faço escala em Paris bem cedo pela manhã, e chego no Rio a tarde, mais bagaço do que gente.
 

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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Queen Mary, University of London, Londres
Achados e perdidos

Estou de volta em Londres, por somente uma semana. Vim para uma conferência e para juntar algumas pontas científicas soltas da vinda anterior. Por razões misteriosas, o vôo mais barato* passava por Roma, de onde me conectei por Embraer até o London City Airport, um aeroporto de somente uma pista situado convenientemente a menos de 10 km do college onde estou. Para Londres em dezembro, o clima estava surpreendentemente ameno (i.e., sem chuva), então vim pedalando, margeando o Tâmisa até chegar (ironicamente) ao East End vindo do leste. É uma região de aparência nova e um tanto holandesa, com um teleférico que liga ambas as margens do rio e grandes prédios multifacetados de vidro com propósito vago. Naquelas circunstâncias e clima, me pareceu bastante agradável.

Cheguei ao Queen Mary cedo demais para pegar as chaves do meu alojamento, então fui diretamente até o prédio da escola de ciências matemáticas, comprei meia dúzia de pacotinhos de um ristretto do juizo final, me fiz um duplo com a consistência de mingau e a potência de Red Bull concentrado, e subi até a sala dos visitantes. E eis que, em meio a diversos e silenciosos acadêmicos, vejo a minha antiga mesa, desocupada. Sobre ela, uma pequena caixa preta.

Logan, a mosca
É preciso fazer agora uma pequena digressão. Na minha última visita, durante o verão local, estava eu certo dia sentado nesta mesma mesa, quando uma enorme mosca começou a me orbitar. De forma quase instintiva, estabeleci logo um diálogo entre filos por meio de uma cacetada com um bloco de anotações enrolado. A mosca se estatelou no chão, e por lá ficou. Fim da história, pensei eu. 

Porém, alguns minutos depois, vejo que ela ainda se mexe debilmente. Em menos de uma hora ela já agitava as pernas de forma mais coordenada. Pouco depois, ela se pôs de pé, e começou a alisar as asas, e logo em seguida já me orbitava novamente.

A cacetada seguinte fez todos na sala, e na vizinha, pararem o trabalho e esticarem o pescoço para ver o que estava acontecendo. Sobrancelhas foram levantadas. O corpo da mosca já não se via mais, presumivelmente desintegrado.

Logan e sua vítima
No dia seguinte, ao chegar, a encontro bem viva sobre o bloco de anotações com o qual eu tentara matá-la. Se era um aviso ou sinal de perdão eu não sei, mas achei melhor não insistir. A mosca, agora apelidada de Logan devido ao seu fator de cura, me orbitou por mais algum tempo, e depois sumiu.

No dia seguinte, no batente externo da janela, vejo um pombo morto. Ao seu lado, Logan. Me lembrei de Mario Puzzo e Francis Ford Coppola, e resolvi definitivamente deixar a mosca em paz pelo resto da minha estada em Londres.

A caixa que encontrei ontem continha um par de óculos escuros. O *meu* par de óculos escuros, que eu havia concluído por exclusão terem sido perdidos no Museu Britânico. Não sei como foram parar na minha mesa, pois me lembro de os haver procurado, sem sucesso, no dia em que fui embora. Quero crer, porém, que o seu reaparecimento foi um gesto de reciprocidade.

Ainda não vi o meu amigo díptero desta vez. É dezembro, afinal, e faz frio. Porém, se existe um inseto capaz de sobreviver ao inverno londrino, é Logan, a mosca.




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* Alitalia, que supostamente era uma sigla para 'Arrived late in Turin, all luggage in Arezzo', mas que se mostrou bastante decente.

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sábado, 17 de agosto de 2013

Chez Mari et Sylvain, Paris
Remendos

O primeiro furo da viagem, em Edimburgo
Estou em Paris por dois dias. Vim para discutir redes neuronais com um cientista local que conheci em New Orleans. Consegui remarcar a reunião para o dia que cheguei (5a, um feriado por aqui), para ter o dia seguinte livre para sair com a Mari. Mas a chegada foi tensa. Eu havia tido um pneu furado a caminho de um café da manhã pré-vôo, em Londres. Consertei o furo em Heathrow com meu último remendo e despachei a bicicleta, mas aparentemente havia um segundo furo, de vazão mais lenta, e o pneu chegou murcho em Paris. Após chegar no centro do cidade (de ônibus), me encontrei com o cara no Quartier Latin. Após algumas horas de boa discussão, me despedi e fui pedalando até o Chez Sylvain et Mari. Periodicamente precisava parar para reinflar o tal pneu. Cada 'carga' durava uns dois quilômetros, mas a câmara de ar resistiu heroicamente até dois quarteirões de distância do meu destino.

No dia seguinte, fomos para Provins, uma simpática cidade medieval nos arredores. Mas eu iria precisar da minha bicicleta funcionando no dia seguinte, porque pretendia atravessar Paris para pegar o ônibus para o aeroporto de Orly em Denfert-Rochereau (é mais rápido e barato que as alternativas, complicadas e múltiplas baldeações de metrô e RER). Tentativas de improvisar um remendo novo por partogênese do remendo antigo se mostraram mal-sucedidas, mas sendo agosto após um feriado, não parecia haver nenhum estabelecimento comercial que poderia plausivelmente me vender o que eu precisava. Pois bem, fomos a Provins. De trem.

Provins combina arquitetura medieval com a placidez de uma cidade pequena. Assistimos um interessante show de aves de rapina, comemos excelentes crepes bretões e passeamos por ruas estreitas onde a vergadura secular das vigas expostas de madeira dão a cada casa um personalidade distinta e sem ângulos retos. Já no caminho de volta para a estação de trem, notei um casal mais velho, em bicicletas de viagem e com caras de que sabiam o que faziam. Corri atrás da mulher, que já se afastava, e disse em um frenglish esbaforido que eu precisava de ajuda, mas que seria necessário esperar pela recém-francesa Mariana, a minha tradutora, para maiores explicações. Mais curiosos que assustados, os dois pararam. Enquanto a Mariana tentava explicar que eu precisava de remendos para câmara de ar, sem saber os termos para ambos em francês, eu fazia uma mímica na qual eu enxia um pneu, que estourava e era então consertado com um remendo imaginário. Pode-se dizer que aprendi francês com o Michael Marceu... Mas eles afinal entenderam, e simpaticamente me deram dois remendos adesivados, e ensinaram a Mari a dizer 'remendo' em francês*. Saímos os dois no lucro.

Chegamos pouco antes do anoitecer. Fiz um jantar para os meus amigos, remendei a câmara de ar, fiz a mala, escrevi este post e vou dormir agora. Amanhã acordo bem cedo, e começo a voltar ao Brasil.

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* 'Rustine', como me informa a Mari nos comentários, abaixo.

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quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Gate A19, Terminal 5, Heathrow Airport, Londres
Fotos do fim do mundo

Complementando o post de ontem, eis um slide show com as fotos de Orkney:



Created with flickr slideshow.


As fotos podem ser vistas diretamente no Flickr aqui.

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quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Queen Mary, University of London, Londres
Até o fim do mundo


Aqui em Londres, a Escócia é considerada um lugar remoto, setentrional, e um tanto exótico e selvagem. Em Edimburgo dizem o mesmo a respeito das Terras Altas. Em Inverness, a principal cidade da região, os condados de Sutherland e Caithness, no extremo peninsular nordeste do pais, são vistos como ermos e ignoráveis, uma espécie de Acre local. Pois bem; ao nordeste de Caithness, do outro lado de uma nesga do mar do norte, fica Orkney, um arquipélago de ilhas varridas pelo vento cujos 20.000 habitantes mal se consideram escoceses (Escócia é o que se encontra do outro lado do canal, eles dizem). Para eles Edimburgo é uma metrópole sulista remota, Londres é um rumor distante e a Europa continental um mito perdido nas brumas.

 Foi para lá que eu fui.

Orkney também é uma das regiões de habitação continuada mais antigas da Europa. A cinco milênios, o clima era ameno e a terra, fértil. O vento quase constante implicava na ausência de árvores, porém, o que fez com que os habitantes locais, neolíticos e posteriores, usassem o arenito local (que se quebra naturalmente em convenientes lajes) como o principal material de construção. O resultado é um dos maiores e mais bem preservados conjuntos de ruínas neolíticas do mundo. Em um pequeno trecho que corta a ilha através de um istmo entre dois lochs (o Ness of Brodgar), é possível visitar a tumba de Maes Howe, uma colina oca que de dentro parece uma catedral de pedra, os círculos de pedras de Stennes e Brodgar, e encontrar o mar na baia de Skaill, onde a antiga mas bem preservada vila de Skara Brae ainda guarda um pouco do flinstoniano charme rural de 3180 AC.

Foi lendo sobre Skara Brae em um história de ficção científica que primeiro tive vontade de visitar Orkney, duas décadas atrás.
Skara Brae foi abandonada 600 anos depois de sua construção. Não se sabe o que aconteceu com seus habitantes. Posteriormente, os pictos e depois os vikings se estabeleceram nas ilhas. Longe de ser um lugar remoto, durante o período viking Orkney se situava na confluência das rotas de comercio e pirataria nórdicas (a única diferença entre um e outra é se as transações eram voluntárias ou não), entre a noruega e as ilhas birtânicas, e com acesso direto para a Islândia e Groenlândia. Até o século XIII o arquipelago era parte do reino da Noruega. Em Maes Howe ainda se vê o grafite rúnico de visitantes vikings.

Passei 5 dias pedalando em Orkney. Visitei sitios arqueológicos, museus idiossincráticos fundados por habitantes locais e entrei em uma linda capela construída por prisioneiros de guerra italianos durante a IIa Guerra Mundial; conversei com os locais e fiquei amigo de meus hosts de couchsurfing; comi um queijo local que é indistinguível de queijo minas; visitei a quase selvagem ilha de Hoy, e entrei em uma tumba esculpida diretamente em um bloco de pedra e caminhei ao lado de paredões vertiginosos erodidos pelo Mar do Norte.

Este último ponto é importante. Toda esta beleza costeira se deve em grande parte a um arenito local relativamente frágil e um Mar do Norte dado a humores violentos. Ao longo dos séculos, o litoral destas ilhas vem sido rapidamente erodido. Skara Brae foi construída a alguma centenas de metros da costa, mas graças à erosão e a elevação do nível do mar pós-glacial, hoje se encontra quase na praia. É possível que em algumas décadas as ruínas sejam levadas pelo oceano, como provavelmente o foram inúmeros outros sítios semelhantes. A coluna de pedra que surge dramaticamente do oceano, o Old Man of Hoy, já foi um arco, e um dia talvez não muito distante será uma pilha de entulho. Isto talvez tenha criado uma certa urgência subconsciente para a minha ida; eu não sei. O fato é que após ter estado por lá, me sinto mais, e não menos, atraído por este fim de mundo que quero muito visitar novamente.

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domingo, 11 de agosto de 2013

Queen Mary, University of London, Londres
O culto do Elfo da Segurança

O Elfo da segurança ataca novamente!
Saúde e segurança são duas coisas inegavelmente boas. A ausência de uma ou ambas é sempre razão para ansiedade. Mas aqui na Inglaterra existe a aparente ilusão de que todos os riscos podem ser mitigados, todos os perigos debelados, todos os acidentes evitados, se uma quantidade suficiente de pentelhação for imposta ao público. Imagine algo como o teatrinho sobre os procedimentos de segurança que ocorre antes da decolagem, mas que continue durante todo o voo. Seriamos informados não só sobre a localização das portas de emergência e sobre o funcionamento das máscaras de oxigênio, mas também receberíamos aviso sobre como café quente pode queimar, o que fazer no caso de um infarto, e como proceder durante um ataque de marimbondos. É assim que me sinto atualmente em Londres.

Health and Safety é o nome genérico deste culto de segurança, ocasionalmente pronunciado 'elf an' safety. O Elfo da segurança é invocado sempre que alguma construção ocorre sem o envolvimento de dúzias de agências estatais e para-estatais, em conformidade com resmas de regras e procedimentos obrigatórios. Quadros de aviso, corredores, ruas e metrôs são cobertos por proibições, conselhos e informativos, que podem ser banais ou importantes, paranoicos ou pertinentes; mas que pelo seu próprio excesso, são quase completamente ignorados. 

Boris Johnson
Só como exemplo: Estou alojado em um apartamento no próprio college. Ele tem banheiro, quarto e escritório. Todos ligados por portas corta-fogo ("Fire door keep shut") a uma ante-sala que não tem muito propósito. Esta por sua vez é ligada a um corredor externo, por outra porta corta-fogo, e o corredor é ligado ao átrio do elevador por, adivinhem, uma porta corta-fogo! Todas as portas são pesadas e se fecham automaticamente por meio de um sistema de pistões e molas. No caso da cozinha (dotada obviamente de extintor de incêndio, cobertor térmico e inúmeros adesivos com informação sobre segurança), um alarme é acionado sempre que a porta fica aberta por mais que alguns segundos.

Obviamente, se ocorrer um incêndio na cozinha, apesar de todos os avisos, e se este não for apagável pelo extintor e manta térmica disponíveis, então deve ser um alívio ser capaz de se colocar a quatro portas corta-fogo de distância do fogo. Mas eu não consigo não achar que este nível de proteção, provavelmente maior do que o de muitos paióis, é um tanto excessivo...

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sábado, 10 de agosto de 2013

Margem do Tâmisa, Oxford, Inglaterra
Rumo a Váu do Gado.

Rola um D20...

Estou postando isto do celular, então tenho que ser breve. Estou em Oxford, onde cheguei pedalando de Londres. Pela rota que escolhi, foram um pouco mais de noventa quilômetros. Sai cedo do meu alojamente, e fui até um dos extremos ocidentais do metrô londrino, em Uxbridge. De lá, fui percolando por trilhas e estradas rurais. Descobri, surpreso, que meu caminho passava pelos Estúdios Pinewood, onde foram filmados muitos dos filmes do 007. Uma pequena placa em um prédio no segundo plano comemora esta ligação com o agente secreto (a esquerda do segurança sinalizando que era proibido fotografar).
 
A cidade seguinte, Marlow, parecei fazer parte de algum cenário dos tais estúdios, pois era tão quintessencialmente e ruralmente inglesa que parecia uma caricatura. Dos pubs com nomes como 'George and Dragon' e 'Fox and Hounds' ao tráfego equestre, passando p
elo casamento na igreja pseudo-gótica local onde ternos caudados se misturavam a uniformes militares com espada, tudo parecia um cenário de algum tipo de remake contemporâneo de Downton Abbey.

Parei para almoçar em Henley-on-Thames, onde comprei peito de pato defumado, um excelente queijo azul com massa quase cremosa cujo nome esqueço, e coca-cola. Almoçei no banco da praça, e continuei a pedalar.

Cheguei nos limites de Oxford um tanto estropiado, ansioso para chegar com tempo suficiente para aproveitar a visita antes de pegar o trem de volta para Londres (onde tinha um jantar chinês marcado). Foi um trajeto mais longo que os demais nesta viagem, mas depois das colinas da Escócia, os morrinho ingleses não assustam tanto. Acabei tendo tempo somente de tomar um café com um amigo que estuda aqui, e pegar o trem de volta. Estou agora digitando do trem para Paddington.



PS: Acabou a bateria do celular. Subi o post quando cheguei no meu ap mesmo.

PS2: Não postei sobre Orkney, ou sobre Edimburgo, mas pretendo fazê-lo em breve.

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sábado, 3 de agosto de 2013

Aeroporto de Kirkwall, Orkney, Escócia
Slideshow do Grande Glenn

Já estou indo embora de Orkney, mas ainda não escrevi nada sobre a minha estada aqui! Vou tentar colocar o blog em dia quando chegar em Londres, mas por enquanto vou subir as fotos da travessia do Grande Glenn para o Flickr. Foram 106 kilometros entre Fort William, na costa atlântica ocidental da Escócia, até Inverness, as margens do Mar do Norte, ao leste.



Fotos da travessia aqui
Fotos da Escócia aqui

Created with flickr slideshow.

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terça-feira, 30 de julho de 2013

Distrito de Sutherland, Escócia
Salve o Grande Duque!


Após um café da manhã antecipado, sai de Inverness em um ônibus para o norte (sempre para o norte), até John O'Groats, de onde uma balsa me levará até as ilhas Orcadas. Fomos contornando a costa nordeste da escócia, uma paisagem quase vazia de gente, com estreitas e rasgadas baias de origem glacial ('firths), colinas negras onduladas e pastagens de ovelhas cercadas por muros de pedra seca.

O distrito de Sutherland possui 13.000 habitantes e 150.000 ovelhas. A razão desta proporção se deve em grande parte ao potentado local, o 1o duque de Sutherland, um dos mais entusiásticos participantes das chamadas highland clearances, na qual inquilinos de pequenas fazendas nas terras altas escocesas foram expulsos para dar lugar àprodução de lã, mais lucrativa. O duque era um dos maiores proprietários rurais da Europa na época (o seu castelo, com 190 quartos, é habitado até hoje por seus decendentes), tão rico em terras quanto pobre em senso de ironia. Antes de morrer, este Kim Jong Il de kilt encomendou a construção de uma enorme estátua de si mesmo encimando um monte local, onde se lê a inscrição'Ao Duque de Sutherland, um senhorio liberal e justo, de seus agradecidos inquilinos'. É plausível supor que os inquilinos (e ex-inquilinos) não ficaram tão agradecidos quanto supunha o duque, dada a quantidade de planos descobertos ao longo dos anos para remover a estátua por meios extra-oficiais usando marretas e dinamite.

Ainda no tema das clearences: No distrito adjacente ao norte, Caithness, alguns dos camponeses expulsos foram assentados em um promotório ermo varrido por ventos de intensidade comparável a furacões. Em dias ruins, animais domésticos e crianças precisavam ser amarrados a cordas de segurança para não serem levados. Eventualmente toda a vila emigrou para a Nova Zelândia

PS: Estou postando fora de ordem porque não consegui ainda terminar os posts sobre a travessia do Great Glen

PS2: Alguns Fatos notáveis:

- Não há tomadas nas lojas Tesco
- 'Red Squirels', anuncia uma placa em Inverness, sob um enorme ponto de exclamação. Devem ser esquilos subversivos.
- Não me lembro de ter visto um único policial em toda a Escócia

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segunda-feira, 29 de julho de 2013

Bank House B&B, Fort Augustus, Escócia
Para o Norte!

Não existe um trecho plano nas highlands. Pelo menos não que eu tenha visto. O caminho ontem não tinha grandes morros, mas consistia de pequenos morrinhos concatenados. O macete é tomar um gás na decida em marcha alta (ao invés de simplesmente deixar a gravidade fazer o seu trabalho), e baixar a marcha uma a uma na subida a medida que a velocidade vai diminuindo, tentando manter o esforço aproximadamente constante ao longo de todo o ciclo. Assim ainda é mais cansativo que um terreno plano, mas pelo menos não é extenuante. Saindo de Fort William (onde cheguei de ônibus, vindo de Glasgow), fui subindo o Great Glen margeando o canal caledônio, até o primeiro dos grandes e compridos Lochs (Loch Lochy) do vale. O tal canal foi uma das maravilhas da engenharia vitoriana, e liga os vários lochs do Great Glen entre si e ao Atlântico e Mar do Norte por meio de uma série de eclusas (incluindo oito em rápida sucessão logo no inicio, apelidadas de escada de Netuno), de modo que, no futuro, posso refazer o meu trajeto de caiaque.

A estrada na metade inicial desta etapa era quase uma metáfora do meu trajeto como um todo, ficando progressivamente mais alta, mas rústica e mas setentrional. Comecei margeando uma auto-estrada, virei em uma estrada secundária, peguei uma vicinal de uma faixa com asfalto mambembe e, passando uma porteira, segui por uma  estrada de terra, transformada pela chuva em um semi-lamaçal.

Sempre com um Loch a minha direita e um morro a esquerda, fui pedalando sob a chuva fina. Os escoceses, para manter a própria sanidade, aprenderam a não se importar com um pouco de chuva, o 'pouco' sendo definido de forma um tanto elástica. Além disso, mesmo em dias teoricamente secos, sol e chuva podem se alternar de forma um tanto espasmódica. Assim, em situações que no Brasil são ocasião para sessões de filmes sob as cobertas e intermináveis jogos de buraco são aqui oportunidades para praticar atividades ao ar livre, que podem incluir caminhadas ecológicas sob guarda chuva ou futebol de galochas. Para uma fração mais hardcore dos locais, porém, nem galochas nem guarda-chuvas são necessários, e estes andam/correm/fazem compras a descoberto, considerando ficar molhado um estado tão ou mais natural do que permanecer seco. Inspirado por estes últimos, e incomodado mais pelo calor gerado pelo esforço físico (a lama suga os pneus como um tapete de ventosas) do que pela chuva fina, fui removendo um a um os vários apetrechos anti-dilúvio que fui intimado a trazer por amigos britânicos (sulistas) e abritizados a quem mencionei meus planos. Capa de chuva, casaco hidrofóbico, coberturas para pés, todos voltaram para o pannier para virar lastro. Deixei Loch Lochy e a estrada de terra para trás, e passei por Loch Oich já no asfalto, até finalmente avistar Loch Ness adiante. Cheguei em Fort Augustus molhado, mas não totalmente encharcado.

Fort Augustus é uma pequena e agradável vila na estremidade sudoeste de Loch Ness. Após check in e banho em um agradável Bed and Breakfast que ocupa uma agência bancária convertida, fiz um city tour completo em 10 minutos, e notei um restaurante um pouco mais aprumado chamado 'The Lovat'. Lord Lovat, me lembro bem, era um comandante dos comandos durante a 2a guerra mundial, e foi marchando, acompanhado de seu gaiteiro de foles, da praia de desembarque até a ponte Pegasus, estratégica*. Não precisei de mais referências. A comida era de fato excelente e, bem alimentado e seco, fui dormir pensando na subida de 400 metros que enfrentaria no dia seguinte.


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* O surpresos defensores desta última, sob pesado contra-ataque alemão, provavelmente se sentiram como extras em 'Braveheart 2 - a Missão' quando ouviram, e depois viram gaitero, Lord Lovat e concomitantes comandos se aproximando.

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domingo, 28 de julho de 2013

Casa do Schneider, Glasgow
Chovendo no molhado


O dia amanheceu em Glasgow cinza chumbo, com nuvens que podem ser cortadas a faca. A chuva, incerta mas persistente, não para de cair desde a madrugada. Se o Djavam estivesse aqui, ele iria querer ler um livro. E eu me preparo para pedalar 54 kilometros hoje a tarde.



Prestando homenagem ao Grande Lider
Cheguei na casa do Schneider ontem de noite (mas ainda com sol). Já há algum tempo é mais comum eu cozinhar quando vou visitar alguém do que o contrário, então fiquei feliz em somente apreciar a comida para variar. Hoje acordamos cedo para fazer um breve passeio a pé. A chuva não para; de fato, piora. Mas andamos até a universidade, aqui perto, o que se nota pelos nomes locais. A estação de metrô é a Kelvin Hall, homônima ao ginásio de esportes, próximas da rua Kelvin, a praça Kelvin, o museu Kelvin, o parque Kelvin, a ponte Kelvin, o prédio da física ('Kelvin Building'). A imponente estátua do dito cujo
completa a impressão de estarmos em uma Pyonyang temodinâmica com concomitante culto de personalidade; mas na verdade Kelvin é o nome do rio que passa aqui perto. Quando William Thomson foi nomeado Baronete, escolheu o título de 'Lord Kelvin'.


0 Kelvin
Daqui a pouco sairemos novamente para tomar o reforçado café da manhã local (bacon, ovos, black pudding, etc). Depois pego um ônibus até Fort William, onde começo a pedalar no começo da tarde, faça chuva ou faça sol.

Termino o dia em Fort Augustus, na extremidade sul de Loch Ness. Enquanto isso, continuo escrutinando os padrões nos mapas climáticos locais como um adivinho examinando folhas de chá.



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sábado, 27 de julho de 2013

Aeroporto de Heathrow, Londres
Plane food, plain tickets

Cheguei em Londres sem grandes problemas. O terminal (5) é uma espécie de galpão/hangar com paredes de vidro e estrutura de cilindros de aço articulados. Arquitetonicamente agradável, mas o interior é uma versão bem-cuidada de um terminal genérico: Lojas de eletrônicos, perfumes e congêneres; fileiras de assentos e raras tomadas disputadas a tapas. Porém, indo de encontro ao estereótipo, as opções de comida são bastante respeitáveis. Comi um pescoço de carneiro assada na panela* excelente, em um restaurante do indefectível Gordon Ramsay chamado 'Plane Food'. (ha!) Acreditem, a comida é melhor que o trocadilho.

A parte ciclística da viagem começa efetivamente amanhã a tarde, em Fort William. Estou portanto acompanhando ansiosamente os gráficos animados das nuvens de chuva na previsão de tempo pela BBC, como um general supervisionando exércitos em batalha. Estou preparado para a chuva e, sendo a Escócia a Escócia, alguma pluviosidade será inevitável; mesmo assim, no auge do verão local acho que não é demais pedir por um pouco de sol.


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* 'Braised', não sei se existe uma tradução exata, mas é uma combinação de cocção seca e molhada

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sexta-feira, 26 de julho de 2013

Aeroporto do Galeão, Rio de Janeiro
Preâmbulo Caledônio

Fui convidado para passar uns dias em Londres para uma colaboração científica. Antes disso, farei um breve preâmbulo caledônio com minha bicicleta dobrável. Após breve passagem por Glasgow, me dirijo a Fort William, na costa atlântica da Escócia, pais que vou atravessar de bicicleta até Inverness, no mar do norte, com parada em Fort Augustus. O caminho é o Great Glenn, uma falha geológica onde ficam os maiores lochs (o Ness é só o maior deles). Em Inverness ('A Capital das Highlands!') pego um ônibus até John O'Groats, literalmente na quina nordeste extrema da Grã Bretanha, e atravesso de ferry para as ilhas Orkney, onde a ausência de árvores e habitação contínua desde o mesolítico geraram a maior densidade de ruínas neolíticas da Europa. Passo rapidinho em Edimburgo, e pego o trem para Londres. 

Para variar, estou embarcando. Espero dar notícias em Heathrow.

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O plano...


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domingo, 9 de junho de 2013

Casa da Mari, Brasilia
Castamere não é no Planalto Central


É uma vergonha Casoyiana o tempo que fiquei sem postar aqui. Estou em Brasília, mas a ponto de embarcar de volta para o Rio. Vim para um casamento (não o meu; do Álvaro e da Ana), e para encontrar amigos(as) e suas respectivas proles que moram por aqui . Não foi, portanto, uma viagem muito turística. Começando do início: A cerimônia de matrimônio teve as três virtudes essenciais casamenteiras: foi bonita, sincera e sucinta. Adiciono ainda uma quarta: A ausência de 'Rains of Castamere' no repertório da orquestra, o que é sempre um bom sinal. A recepção subsequente foi também bastante agradável e bem nutrida, e incluiu algumas demonstrações de surpreendente desenvoltura na pista de dança.

Os dois dias seguintes consistiram principalmente daquele tipo de ocasião social informal que, embora muito agradável, não é de grande interessa para quem não lá estivesse, a não ser quando algo espetacularmente errado acontece (o que não foi o caso). Me limito, portanto, a algumas observações gerais sobre Brasília. 

Os habitantes locais conversam em um peculiar dialeto geográfico. Devido a numeração* dos vários blocos e superblocos do plano piloto, a localização de qualquer endereço (até o nível do apartamento em questão) é imediata e univocamente determinada, e a menção a algum lugar em um bloco x é sempre seguida de uma discussão impenetrável sobre a sua proximidade do bloco y e distância imensa do bloco z, o seu propósito funcional original, e por qual das inúmeras e indistinguíveis tesouras rodoviária o seu acesso se dá. Se o seu nome não é Dilma, andar como passageiro por aqui consiste em repetições e inversões sucessivas do seguinte procedimento: seguir por uma avenida de curvatura constante, passar por uma sucessão de tesouras idênticas, cruzar por uma ou duas ruas e balões indistinguíveis entre si, e ser apontado na direção de um dos isômeros de um prédio polimérico de arquitetura modernista genérica. 

Dito isso, a minha impressão da cidade desta vez foi muito mais positiva do que a que tive durante minha visita anterior. Para começar, as chuvas só pararam agora, então árvores e gramados ainda estão agradavelmente verdes, enquanto anteriormente eu havia encontrado uma cidade em aparente pleno processo de desertificação, com vegetação esturricada de aparência pós-apocaliptica e ar mais seco que sovaco de múmia. Além, passei a maior parte do meu tempo ou no Minhocão (o abominável prédio principal da UNB), ou vagando meio a esmo como turista. Desta vez estive acompanhado por vários locais e expatriados de longa data, então a experiência foi mais intimista. Andei pelas agradáveis alamedas internas de uma quadra com a Mari (com quem sou incapaz de parar de discutir física) e com a Lets e sua crescente família, e sai para tomar cerveja (ou, mais propriamente, para fazer companhia a quem o faz) com a quase totalidade do meu grupo de RPG de físicos, aqui transladado para o casamento.

Mas, por mais agradável que tenha sido esta última impressão, Brasília ainda me causa estranheza, e até um certo desconforto. O negócio de Brasília é o negócio do governo federal; e o artificialismo e a escala mais-que-humana de sua arquitetura** criam uma impressão quase religiosa de uma espécie de cidade sagrada da tecnocracia. É um sentimento um tanto opressivo, que lembra um pouco Chichen Itza, com seus monumentos imponentes alinhados cartesianamente em eixos monumentais, e onde, suponho, o El Castillo (a pirâmide principal) faz o papel do Congresso Nacional.***

Bem, volto agora para o Rio, cidade que ninguém pode acusar de ser planejada.

PS: Estou no avião, onde uma velhinha acaba de ser içada em uma inusitada cadeira porta-idoso. Após ser desatada e agradecer aos dois funcionários que a trouxeram, ele seguiu em processão triunfal pelo corredor, oferecendo bom-dias para os demais passageiros, que respondiam em coro. 

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* Que alias ficaria mais simples em hexadecimal
** E a concomitante ausência de pessoas nas ruas; paisagens aqui consistem de prédios e carros em frente a um horizonte perfeitamente plano.
*** Eu gostaria muito de ler o que arqueólogos do futuro irão escrever sobre o prédio do congresso nacional...

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